quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Efeméride - Regresso da seleção nacional 2011/2021

Efeméride - Regresso da seleção nacional 2011/2021

Hoje 11/11/2021 completam-se 10 anos da seleção nacional as competições internacionais para assinalar a data a Visão Desportiva STP fez três perguntas a diversos intervenientes no jogo do regresso frente ao Congo.

Como jogador/treinador qual foi o sentimento quando soube que a nossa seleção iria voltar a competir internacionalmente?

Como foram os dias e horas que antecederam o encontro?

Passados 10 anos qual foi a evolução do futebol santomense?

Gustave Clement Nyoumba - selecionador nacional em 2011 

1-A seleção nacional de futebol de São Tomé e Príncipe realizou seu último jogo internacional diante da Líbia em 2003 com uma derrota caseira de 0-1 e uma goleada no jogo da 2a mão por 8-0 durante esse período, STP perdeu o direito de voto na FIFA e na CAF. Com as eleições na FSF em 2010 saiu o Comitê Executivo liderado por Manuel Dendê. O novo Comitê Executivo liderado por Idalécio Pachire assumiu o destino do futebol santomense e estabeleceu como meta principal a reconquista do direito de voto da FSF junto à FIFA e a CAF.
Janeiro 2011 foi lançado um concurso público para o cargo de Diretor Técnico Nacional em que dois candidatos tiveram que brigar o cargo até a última semana. Finalmente o Comitê Executivo decidiu nomear o Prof. Felipe Neto "Ratinho" como DTN e fui nomeado selecionador nacional de futebol de São Tomé e Príncipe.
No mês de fevereiro de 2011, a FSF criou uma equipa de trabalho composta por mim, o prof. Ratinho e mister Juvenal, com objetivo de preparar o Plano Estratégico da federação. Um documento que alguns meses depois foi apresentado a FIFA e consequentemente permitiu que STP recuperasse o direito de voto na FIFA e na CAF, abrindo assim as portas para o retorno da seleção nacional em competições internacionais.


2-Logo a seguir o sorteio dos jogos das eliminatórias do Mundial 2014 não tardou a sair e tivemos a infelicidade de cair num dos grandes do continente, a República do Congo.
Podes imaginar o enorme trabalho que se apresentava na minha frente, formar uma equipa nacional partindo do nada, pois 8 anos depois sem seleção e sem jogos internacionais por onde eu teria começado? Eu decidi opostar nos jovens do Vitória do Riboque com experiência em jogos internacionais a nível do clube: Ibraimo Ceita, Adilson Varela, Quilson Ceita, Girael Nunes, Aykemss Danquá, Derilson Das Neves "Avô" Odayr Tavares "Dady" Joazhifell Sousa Pontes.ÁGUA IZÉ: Dungue do Rosário PRAIA CRUZ: Juary Cardoso, "Juju" Nilson Taty, Francisco do Nascimento "Nay"e outros jogadores do 6 Setembro: Sweetzer Batista, Caixão Grande: Orgando Paquete que tiveram a oportunidade de representar STP nos torneios internacionais da CPLP e jogos africanos do Congo 2006, Jogos da Lusofonia em Macau em 2006. Selecionei alguns jogadores da Região Autônoma do Príncipe: nomeadamente, Lasset Costa, Artur Amoço, Arlito e Remy Lima e finalmente decidi selecionar: José da Silva Varela, Jair Nunes Ferreira e Cerqueira Quaresma três jovens formados na Escola de Futebol de São Tomé e regressado do Brasil após um ano de estágio. Na altura não havia meios suficientes para chamar jogadores na diáspora, daí que fui obrigado a montar uma seleção nacional 100% composta de jogadores locais.
Com essa nova equipa nacional iniciamos com uma derrota caseira por 5-0 diante do Congo e dois dias depois aconteceu aquilo que considero o renascimento da nossa seleção nacional um empate a uma bola num jogo bastante equilibrado em STP marcou o primeiro golo e criou vários oportunidades. Depois chegou as eliminatórias do CAN 2013 e STP entrou confiante nesta eliminatória com uma vitória caseira por 1-0 diante do Lesoto e um empate a zero no Lesoto, marcando assim a passagem histórica de uma seleção nacional a fase seguinte de uma competição internacional.
Na fase seguinte tivemos que defrontar a Serra Leoa, ganhamos por 2-1 em casa e perdemos por 4-2 em Freetown num agregado de 5-4 de referir que neste ano 2012, STP foi o país que mais subiu no ranking da Fifa em todo mundo, ocupando o lugar 115.

3-Passado 10 anos posso dizer que o futebol santomense não avançou em nada muito pelo contrário regrediu bastante. Infelizmente o futebol santomense não tem projetos nem programas de desenvolvimento até a presente data. Falta tudo. Os clubes estão desorganizados, não existe futebol de base, não há campeonatos jovens, não há treinadores de formação, não há materiais de treino, falta bolas para treinar crianças, a lista é muito longa.
Se não nos unirmos hoje em volta de projeto para o bem do futebol santomense, ficaremos eternamente para trás. O futebol é um universo dinâmico que precisa de gente dinâmica para alcançar o sucesso. STP ainda está muito longe das grandes nações do futebol. Felizmente o jovem santomense tem potencial. Ibraimo Ceita - jogador em 2011 

1-Com todo esse tempo passado algumas coisas ficaram no esquecimento, mas o momento foi recebido com alegria por mim e por outros colegas na altura e principalmente pra nós que já tínhamos representado as seleções inferiores era a oportunidade de representarmos à seleção principal , sonho que qualquer jogador em qualquer parte do mundo.

2-Foram com bastante expectativas embora sabíamos que iria ser complicado pra nós , um pelo facto da qualidade do nosso futebol outro por falta de competição porque naqueles 10 anos de pausa o futebol evoluiu, nós que fomos chamados a seleção tínhamos a noção do que se passava no mundo de futebol mas ainda assim tínhamos o direito de sonhar e acreditamos que podia ser possível.

3-Estou fora do país há praticamente 10 anos, e mesmo de longe as vezes acompanho o nosso futebol e sei que isso vai de mal a pior, isto porque na altura todas as equipas tinham pelo menos 4 a 5 jogadores bons nas equipas e algumas equipas eram reforçadas com alguns jogadores que vinham da sua escola (academia) havia uma rivalidade positiva, e havia mais jovem com amor a prática do futebol, só um exemplo o meu VICTORIA DE RIBOQUE sempre viveu dos jogadores saído da zona, hoje segundo a informação o plantel agora tem três por ai “não tenho a certeza “, da pra ver que a prática diminuiu e a qualidade também. Então posso dizer que não houve evolução.

Quilson Ceita - jogador em 2011 

Era emocional, mas o nosso futebol regrediu muito, a inexistência de escola de futebol faz com que não haja bom futebol e talvez num futuro próximo não haverá seleção de futebol. E enquanto os jogadores não se reunirem por formar a associação de jogadores e tomar certas medidas contra a atual federação o futebol em STP irá acabar. Nota: sem jogadores não existe futebol, eles têm que ser sempre prioridade, mas não é o que acontece. Os dirigentes da federação só estão a enriquecer e o futebol a morrer.
Joazhifell Sousa Pontes - jogador em 2011 
 
1- Quando soube que a seleção iria competir ao nível internacional fiquei satisfeito porque no início de carreira e via seleção como ponto mais alto para o nível de um jogador e espreitava uma oportunidade.

2- Durante preparação para o jogo era visível no rosto dos companheiros a motivação para jogo, infelizmente o resultado não foi o esperado, mas graças a Deus tivemos um selecionador que sempre nos dei apoio moral e motivou-nos a levantar cabeça e o resultado veio a seguir conseguimos um empate no jogo da segunda mão em casa de Congo, e entramos a vencer para ver que o desaire do primeiro jogo já estava no passado.

3- Durante 10 anos a conjuntura do futebol nacional não mudou.
Não temos infraestruturas para a prática do futebol ( os jogos da primeira e outras divisões ainda são realizados nos campos de terra batida e há quem defende essa prática alegando o poderio da sua equipa em casa nessas condições de campo em detrimento do estádio Nacional. Agora pergunto, como é que os jogadores irão melhorar a qualidade de futebol se continuarem a jogar nesses campos e posteriormente representar a seleção nacional e competir com grandes seleções como Marrocos, Gana, Cabo Verde e outros.....?
Ausência da formação, são poucos os clubes que ainda têm escolas de futebol para garantir a sustentabilidade do futebol, porque a prática do futebol juvenil não é comum o mesmo acontece com futebol feminino.
Há carência de potenciais treinadores, todos os clubes são dependentes da federação não existem financiadores ao nível nacional, sobrecarregando assim a Federação. Resumindo não houve evolução só algumas melhorias, os clubes não têm uma estrutura para participar nas competições africanas, o campeão nacional não consegue participar na liga dos campeões africanas, o futebol ainda é amador, os jogadores têm que trabalhar para sustentar a familiar e depois irem treinar e muitas e outras coisas...

Tentamos o testemunho de outros intervenientes mas infelizmente não obtivemos respostas, por isso agradecemos aos que gentilmente aceitaram responder as nossas perguntas.



 


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