sexta-feira, 30 de abril de 2021

Espaço Entrevista - Jocy

Espaço Entrevista - Jocy

Nesta edição do Espaço Entrevista da Visão Desportiva STP temos Joazhifell Sousa Pontes ou simplesmente Jocy, o capitão da seleção santomense futebol e jogador mais internacional da história do futebol santomense.


Visão Desportiva STP (VDSTP) - Boa tarde, antes de mais obrigado pela entrevista. o Jocy está na seleção nacional desde 2011, quando a seleção voltou a competir internacionalmente, que balanço faz desde período que representa as cores nacionais? 
Jocy - Obrigado pela oportunidade de falar um pouco da minha carreira, a minha carreira na seleção começa em 2011 mas antes em 2010 houve uma delegação do Vitória de Riboque que viajou para Angola para participar num torneio alusivo a independência, nessa equipa do Riboque faziam parte alguns jogadores da seleção como Avó, Gando, Aykemss, Adilson entre outros, esse foi o primeiro jogo que fiz a nível internacional, foi algo totalmente diferente daquilo que estava habituado aqui em São Tomé, desde a forma como o publico puxava pela equipa do inicio ao fim do jogo, o torneio foi na província angolana do Lunda norte, perdemos o primeiro jogo com a equipa da casa o Sagrada Esperança por 1 a 0, o segundo jogo foi contra uma equipa da Namíbia, que vencemos nos penaltis ficando no terceiro lugar. Após essa experiência voltamos a São Tomé, começou o campeonato e pela primeira vez estava a jogar por uma equipa da primeira divisão o Vitória do Riboque, nessa época fizemos uma grande temporada, fomos a final da campeonato e vencemos a taça de São Tomé e Príncipe.   

Onze inicial do jogo São Tomé e Príncipe 0 Congo 5
 jogo que marca o regresso da seleção nacional as competições internacionais  

VDSTP - Como foi a chamada a seleção pela primeira vez?
Jocy - Naquele período de 2011 com as boas exibições no clube, fui chamado a seleção, alguns dos meus colegas do Vitória de Riboque também foram chamados, grande parte mesmo. A seleção voltou a competir, na altura com mister Gustav como selecionador, tínhamos alguns jogadores com alguma experiência e alguns jovens como eu, nos treinos para o jogo o mister Gustav montou varias soluções mas estava com alguma dificuldade para montar o meio campo apenas no último treino fui colocado na equipa titular e comecei o jogo no onze inicial, infelizmente o jogo não correu bem perdemos 5 a 0, depois de sofrermos três golos a equipa ficou nervosa, ainda mais com habito do povo santomense que em vez de apoiar coloca mais para baixo, eu próprio fui substituído ainda na primeira parte pelo mister que achou não estive bem no lance que resultou em golo e retirou-me do campo.

Jocy com as cores da seleção nacional

VDSTP - É verdade esse foi o único jogo que o Jocy não jogou os 90 minutos desde 2011 até 2021, quanto ao futuro na seleção nacional depois depois de tanto tempo na seleção nacional, o Jocy vai continuar na seleção durante quanto tempo? Ou ainda não pensou até quando vai representar a seleção nacional?
Jocy - Sim já pensei nisso, talvez dentro de um ou dois anos mas também depende do selecionador seja este ou outro se achar que ainda posso dar o meu contributo na seleção vou estar sempre disponível talvez mais uma eliminatória mas no meu horizonte não penso em continuar mais do que 3 ou 4 anos.   

Celebração do golo de Jocy

VDSTP - Falando então desta ultima competição, o que correu mal para a seleção nacional ser a única das 48 que participaram nesta fase a não pontuar? 
Jocy - É uma questão complicada, muitas coisas falharam, nós como jogadores temos que assumir as nossas responsabilidades, houve jogos que independente dos adversário Gana, Sudão e África do Sul, houve momentos que nós perdemos os jogos por questões de detalhes referente ao primeiro jogo no Sudão, abordamos mal aquele jogo não conhecíamos bem a equipa do Sudão e achamos como a equipa vinha 2 vitórias contra as Maurícias estávamos empolgados e achamos que podia jogar em igual para igual e chegamos a casa de um adversário que dificilmente perde no seu terreno, com o nosso guarda-redes foi expulso ainda na primeira parte o jogo ficou muito difícil. A meu ver não houve nenhum erro da equipa técnica, faltou alguma maturidade e aquele espirito de sacrifício dos atletas, contra a África do Sul estávamos empatados aos 85 minutos faltou acreditar que é possível, outrora em seleções de que fiz parte em 2012 ou 2014, lembro que ganhamos a Serra Leoa e no balneário pedíamos a Zâmbia que era campeã africana na época, aquele espirito dos atletas que não interessava quem era adversário a atitude e a mentalidade eram vencedoras, isso foi-se perdendo ao longo do tempo, no jogo com a África do Sul faltou isso garra e determinação, faltou isso e é o que tem faltado, ultimamente aos jogadores que vão a seleção, parece que mudaram a mentalidade, vão para exibir, para mostrar que estão na seleção ou por falta de concorrência, acho que não vão por amor, não vão com aquele pensamento de que é estou aqui tenho que dar o meu melhor, o meu máximo.

Jocy como capitão da seleção nacional

VDSTP -Porquê que existe essa falta de competitividade? Porquê se fomos a ver os valores da seleção são muito acima daquilo que o ranking demonstra, o que falta para haver mais competitividade e melhor resultados? 
Jocy - Fazer mais estágios fazer um trabalho de base, mesmo os de cá precisam de estar juntos mais vezes não é só quando quando aproxima-se a época da competição que o selecionador faz  a convocatória, falta aquele ambiente falta aqui na minha espírito de amizade e  união, mesmo os que vêm de fora e eles dá a entender que eles não se conhecem, há jogadores da diáspora que foram chamados recentemente e eles vêm se conhecerem aqui mesmo no ouvindo falar um do outro, isso leva tempo, a seleção precisa daquela amizade e aquele espírito de união entre colegas fora e dentro  balneário, é isso que está a faltar é isso e aquele trabalho coletivo de todos, acho que falta-nos jogadores a representar grandes clubes que podem vir e fazer a diferença mas o que falta  é mesmo trabalharem mais tempo juntos só que o problema é que os que vêm da diáspora têm os seus compromissos com os seus clubes  e  isso tem dificultado. 

Jocy nos festejos de mais um título da UDRA

VDSTP- Falando agora da carreira do Jocy nos clubes, vai continuar a representar a UDRA ou ainda não é certo que continue?
Jocy - Até então tenho aquela ligação com o UDRA e o objetivo do presidente é que continue mas há sempre desejo dos outros clubes onde joguei o Sporting Praia Cruz e o Vitória do Riboque, que já me abordaram varias vezes a perguntar se vou continuar no UDRA mas foram conversas informais porque não há previsão para o campeonato nacional iniciar então os dirigentes estão naquele impasse pois não faz sentido contratar um jogador sem haver campeonato contudo a percentagem está mais para o UDRA porque há um coletivo que já fiz parte mas dizer e definir onde vou jogar só quando o houver previsão para o campeonato começar.

Jocy ao serviço Sporting Praia Cruz num jogo da Liga dos Campeões Africanos

VDSTP- Como é que viu a surpresa do Agrosport de Monte Café ter sido campeão em 2019?
Jocy - Sim, falando da UDRA a equipa da qual fiz parte, nós subestimamos o Agrosport nós estávamos preocupados com Praia Cruz e Agrosport foi fazendo o seu jogo, houve um jogo onde falhamos que foi no jogo contra Trindade que estávamos a ganhar 2 a 0 e perdemos 4 a 3, ficamos um pouco mais para trás eles tinham nos últimos 3 jogos 2 jogos decisivos um contra Praia Cruz e outro contra UDRA, eles fizeram uma coisa inédita que foi vencer no campo de Praia Cruz, que dificilmente perde em casa, depois no jogo contra nós fomos a casa deles tentar ganhar e estávamos a ganhar mas eles empataram o jogo através de um livre direto e com forte apoio do publico conseguiram esse resultado. Na ultima jornada era UDRA contra Praia Cruz e eles jogavam contra Caixão Grande e só precisavam de ganhar o seu jogo e foram campeões, foi uma surpresa conseguiram quebrar a hegemonia do UDRA e Praia Cruz que ganharam o campeonato nos últimos sete ou oito anos, foi a equipa revelação e ganharam com mérito mas foi bom haver mais concorrência haver mais equipas que possam disputar o campeonato.  


Jocy com as cores do Vitória de Riboque

VDSTP- Uma critica que vários adeptos fazem é que as equipas nacionais não disputam as competições internacionais nem o campeão nem o vencedor da taça quer por falta de financiamento ou de condições pois essa é uma das situações que faz o nosso futebol evoluir porque só competimos entre nós, na opinião do Jocy sobre esta situação?
Jocy-É o sonho de qualquer jogadores, mas a verdade é que os clubes em São Tomé e Príncipe não têm condições dependem da federação o que é um mau indicador, depois a própria devia ter um fundo e não tiver canalizar alguns fundos para quem ganha o campeonato e a taça participar nessas competições, pois não vejo nenhum clube santomense conseguir assumir essa responsabilidade sozinho enquanto não mudamos o paradigma do nosso futebol em que os clubes precisam de ter uma estrutura para participar nessas competições, contudo era bom se isso acontecesse pois iria dar mais experiência aos nosso jogadores a nível internacional. 

Jocy com as cores da seleção nacional

VDSTP- Para finalizar o que falta ao futebol santomense para ter uma melhoria para chegar a um nível superior? Para além das infraestruturas, das apostas, investimento falta mais algum situação?
Jocy- No futebol santomense falta muito coisa, para começar os clubes não têm escolas de formação não há campeonato juvenil, essa é uma tarefa da federação que tem de obrigar os clubes a terem formações jovens para dar sustentabilidade ao campeonato, os clubes não têm condições, falta também algum interesse e temos alguns jogadores jovens com valor mas como não têm oportunidade e acabam por se perderem, outra situação é a falta de visibilidade para podermos ter olheiros para conseguirmos colocar jogadores em clubes no estrangeiro, essa é uma solução os jogadores que se destacassem aqui coloca-los em clubes lá fora que os possam fazer evoluir ainda mais através de alguma parceria ou mesmo da federação.

VDSTP - Nós agradecemos a entrevista e acima tudo o que fez prol do futebol nacional.

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