Esta semana temos no Espaço Entrevista da Visão Desportiva STP o nosso campeão africano da canoagem Buly Afonso.
Visão Desportiva STP (VDSTP) -Boa tarde, antes de mais obrigado pela entrevista, uma pergunta que grande parte dos nossos seguidores fazem, como começou a prática da canoagem?
Buly Afonso (BA) - Eu é que agradeço pela oportunidade, o meu primeiro contacto com a canoagem foi na praia Emília quando a canoagem estava praticamente a começar em São Tomé e fui tentar participar, vendo como é que se fazia, depois de algum tempo quando STP conquistou algumas medalhas, vi Adilson Monteiro e outros treinadores a darem entrevistas falei com ele para começar a praticar como eu gosto de desporto ele aceitou, disse que podia e foi assim que comecei, ele foi ensinando-me pouco a pouco e assim fui evoluindo.
VDSTP - Há quanto tempo é que está na canoagem?
BA - Desde 2008 mas depois de algum tempo parei devido a escola família etc.. mas um dos meus companheiros Alcino Gomes, que é um dos grandes nomes da canoagem em STP, certo dia encontrou-me e aconselhou-me a voltar, visto que era uma das promessas da canoagem e que não podia desistir. Em 2011, quando já estava a treinar com Ramuel dos Ramos, foi o meu primeiro campeonato na Tunísia, onde consegui a minha primeira medalha em conjunto Altamiro Ceita (fizemos uma dupla) de bronze em 1000 metros e de prata em 200 metros.
VDSTP -Faz-nos um pequeno resumo da carreira desportiva até agora? Prémios, vitórias lugares de destaque etc?
BA- Na Tunísia foi onde tudo começou em termos de medalhas, na África do Sul na qualificação para os jogos Olímpicos de 2016 vi o meu objectivo cumprido depois de tanto esforço (ter de deixar a família, amigos o país) vi o meu esforço recompensado com essa qualificação para além de ter conseguido mais duas medalhas mas maior feito até agora foi a conquista com Roque dos Ramos da medalha de ouro nos jogos africanos em 2019 que nos deu a qualificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 que foram adiados devido a pandemia.
VDSTP - Como é esta a ser essa preparação para os jogos olímpicos? Pelo que sabemos estão a treinar em Espanha, como é que está ser preparação debaixo desse tempo bastante quente?
BA -Com essa pandemia, fazemos o máximo para não ficarmos parados, continuando a treinar, independentemente do calor, normalmente uma vez por dia e alguns dias duas sessões uma de manhã e outra a tarde. A pandemia atrasou-nos um pouco visto que estávamos a apontar o nosso pico de forma para os jogos olímpicos e de repente tivemos que parar tudo mas estamos a voltar aos poucos.
VDSTP - Nos jogos Olímpicos vai participar em C2 (dupla) e C1 (individual) quais são os objectivos, em C2 no último mundial ficaram nos 16 melhores?
BA -Tentar fazer o melhor possível, para C1 é tentar fazer a melhor marca algo bom, para C2 nós temos um objectivo de tentar um pouco mais além entrar na final B (entre 8 -16 melhores) ou final A (os melhores 8) não é fácil mas é o nosso objectivo. Nós desportistas temos que tentar sempre mais longe embora não sendo fácil e fazer algo bom e inesperado, mesmo sabendo que os nossos adversários treinam 8, 9 ou 10 anos para esse momento enquanto nós só saímos de STP há 2 anos para treinar.
VDSTP - Na canoagem estás no topo, consegues indicar algum jovem valor na canoagem santomense?
BA -Existem vários atletas capazes de representar o país tanto no feminino como no masculino, tivemos dois jovens que estiveram em Marrocos nos jogos africanos, o Alex e o Edmilson que surpreenderam-me pela sua forma, com mais concentração podiam ter chegado as medalhas, fizeram uma boa prestação mas ficaram em quarto logo primeira prova internacional.
VDSTP - O comité olímpico tem feito um trabalho fantástico não só com a canoagem mas também com outras modalidades trazendo os atletas para competir num nível mais elevado, tirando-os de São Tomé e colocando em outros países como é o vosso caso. Se tivessem em São Tomé e Príncipe não teriam esta evolução, depois do projecto olímpico terminar vai ficar na Europa a treinar ou volta para São Tomé e Príncipe?
BA -Nós ainda não sabemos, mas existem as duas hipóteses temos um projecto em vistas mas vamos ver o que vai acontecer. O que posso dizer é que depois do jogos olímpicos do Rio 2016 voltei para São Tomé e fiquei dois anos parado, situação que dificultou voltarmos ao topo de forma quando seria mais fácil se continuássemos a treinar de forma consistente. De momento não sabemos nada ao certo, vamos ver o que vai decorrer ao longo do tempo.
VDSTP- O que falta para São Tomé e Príncipe ter mais atletas de topo nos jogos olímpicos visto que nesses jogos vamos ter 6 ou 7 atletas no máximo, apesar do país ser pequeno em vez de 6 ou 7 podíamos ter uns 11 ou 12 atletas no comitiva olímpica?
BA - Apesar do país ser pequeno podíamos ter mais atletas, mais pessoas até porque somos um país jovem, no meu ponto de vista em São Tomé e Príncipe todos gostam de desporto e o que falta é apostar mais no desporto seja qual for a modalidade, chamar a atenção das pessoas, da população, para termos mais atletas também é preciso mais competições nacionais em todas as modalidades durante o ano ou em grande parte do ano isso chamaria a atenção da população para a prática dessas modalidades até porque nós santomenses temos muita capacidade para competir, de forma geral faltam mais campeonatos mais actividades desportivas para chamar a atenção das pessoas para a prática do desporto no geral.
Muito obrigado pela entrevista e muitos sucessos.